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Macapá, Amapá
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Trabalho de taxistas vira rotina de medo

90% dos casos não são registrados, diz sindicato. Estima-se que 70% dos taxistas permissionários deixaram de trabalhar no período noturno em Macapá

Trânsito caótico, mau humor de passageiros, despesas com manutenção e a concorrência clandestina. Esses são alguns dos diversos problemas enfrentados pelo taxista macapaense em seu dia-dia. Em 2009, a rotina desses profissionais ganhou um reforço de peso: o medo diante do aumento na ocorrência de assaltos e homicídios. De acordo com o Sindicato dos Taxistas do Amapá (Sintaxi), a média de roubos chegou a dois casos por noite. Graças a uma parceria com o comando de inteligência da Polícia Militar, a violência diminuiu consideravelmente. Todavia, a categoria, este ano, volta a se preocupar com casos violentos que vêm ocorrendo em bairros periféricos da capital. Esta semana, pelo menos, dois taxistas já foram vítimas de bandidos, um deles por sorte não morreu. A situação psicológica pós-assalto, em muitos casos, chega a ser mais grave do que o crime propriamente dito.

As situações englobam desde furtos simples, sequestro do veículo, roubos, até latrocínio. Profissionais trabalham lado a lado com o receio de confrontar com bandidos e o medo de não voltar para casa com vida. A maioria acredita que a única solução para frear a onda de violência é parar de trabalhar a noite. Outros, como o presidente do sindicato, Risonilson Barros, apostam em parceria com o poder público.

Que os assaltos ocorrem todos os dias, quanto a isso não há dúvidas. Mas o que o sindicato pede a classe é que todos os profissionais levem o fato ao conhecimento dos órgãos de segurança. A grande maioria dos assaltos (90%) não é registrada, diz o presidente. “As ocorrências só são registradas quando as vítimas sofrem alguma agressão, quando são assassinadas ou quando o bandido é preso. A partir do momento em que o taxista registra o roubo passa gerar uma estatística, que pode ajudar no trabalho da polícia”, alertou. Para o taxista João Barbosa, comissionário, é pela falta de registro que o recrudescimento da violência contra a categoria, este ano, por enquanto é uma simples constatação de papo entre taxistas.

70% deixaram as noites de Macapá
Muitos outros homens, pais de família e trabalhadores demonstra a mesma preocupação do senhor Elizeu Cordeiro com as proporções que a violência tomou em Macapá. “Estou na praça há mais de 29 anos e já fui assaltado duas vezes. Só não fui assaltado mais porque parei de trabalhar a noite. Uma vez foi às 3h e outra foi 1h da madrugada. Parei de rodar e a situação apertou em casa. A renda diminuiu, e as dívidas começaram a atrasar. Mas quando fica muito apertada, não tem outro jeito a não ser rodar a noite, mas sempre com receio”, disse Elizeu.

De acordo com o Sintaxi, 70% dos taxistas permissionários (donos da placa) deixaram de trabalhar no período noturno de 2009 para cá. Para aqueles que trabalham por comissão, os chamados comissionários, além das despesas domésticas, o custo a pagar pelo uso da placa é outra responsabilidade mensal que só pode ser cumprida com trabalho noturno. “O jeito é se arriscar”, disse Elizeu.

As ações da PM devem continuar, diz sindicato
Só esta semana, há registro de uma tentativa de assassinato e um caso de roubo, que ocorreu na madrugada da última quinta-feira (11), fora os pequenos assaltos que acontecem todos os dias e não são comunicados. No ano passado, a média era de mais de um assalto por noite, que levou o Sindicato a recorrer à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Em audiência pública realizada em maio, a classe pediu mais segurança à Polícia Militar. Aproximadamente 150 taxistas compareceram ao plenário da Assembleia Legislativa do Amapá. Várias autoridades da segurança e deputados acompanharam os debates sobre a violência praticada contra os taxistas no exercício da profissão. Em 2009, em sete meses, cinco profissionais foram vítimas de latrocínio.

Risonilson disse ontem que a partir do debate, medidas enérgicas de combate à violência foram tomadas e os índices de roubos e homicídios sofreram grande queda. “Quando a parceria existe, a gente tem que enfatizar. Graças a isso, houve redução. A PM está atenta quanto a isso, só não pode deixar que a onda de crimes volte”, frisou o presidente, ressaltando que as abordagens feitas pela polícia militar permitiram que muitos crimes fossem evitados. “Em alguns casos, a polícia chegou a encontrar facas e objetos pontiagudos em posse de passageiros. Muitas vezes são pessoas de bem, mas isso tem que ser feito para dar mais segurança. Além dos passageiros, os taxistas também são revistados, até para evitar o constrangimento da população”, disse.

Bandidos agem agressivamente usando armas de fogo
O presidente do sindicato explica que a maior parte dos bandidos costuma agir agressivamente e com armas de fogo. Geralmente, eles estão bem vestidos e acompanhados de mulher para não levantar suspeitas. Levam o taxista para locais distantes em bairros periféricos como Novo Horizonte, Congós, Infraero II e Muca. Em pontos isolados, escuros sem movimentação de pessoas, eles anunciam o assalto.

Colocar os taxistas no porta-malas do carro e praticar assaltos com o veículo é uma modalidade muito usada por meliantes atualmente. De acordo com Risonilson, no ano passado, um taxista foi colocado na mala do carro e quase morreu asfixiado. Ele relata detalhes que salvaram a vida do pai de família. “Só ele dirigia o taxi porque tinha ciúmes do carro. Até na oficina, ele não deixava o mecânico dirigir para testar. Ele mesmo testava. Nem parentes, nem a esposa dele pegava no carro. Graças a isso, ele foi salvo quando estava quase morto dentro do porta-malas. Ele foi assaltado, jogado no porta-malas, e o carro foi usado em outros crimes. Alguns colegas viram que não era ele quem estava dirigindo e acionaram a polícia, que prendeu os dois assaltantes”, conta.

Foi numa tentativa de assalto frustrada que o Manoel Gonçalves Pantoja, “O Barcarena”, de 47 anos, quase foi morto por dois adolescentes. Na madrugada do último dia 9 (terça-feira), por volta de 5 horas, ele foi assalto no bairro Santa Rita no meio de uma corrida. “Barcarena” foi esfaqueado três vezes ao reagir à voz de assalto. Segundo informações de Risonilson, sinais entre taxistas são uma forma de alertá-los sobre passageiros suspeitos. “Foi o que fez Barcarena, quando suspeitou dos dois. Ele foi esfaqueado quando usou o rádio para alertar os colegas”, afirmou.

Psicológico pós assalto
Macapá possui 723 taxis, segundo informações do Sindicato. É difícil encontrar um taxista que ainda não tenha sido vítima de meliantes. Para o presidente, Risonilson, a situação psicológica pós-assalto, em muitos casos, chega a ser mais grave do que o próprio crime. “O colega que quase morreu asfixiado nunca mais voltou a trabalhar. Ele disse que não tem mais condições psicológicas. Ele nos contava que só de pensar em não ver os filhos e os pais era motivo suficiente para largar. Eu também, que já fui assaltado, não consigo rodar a noite. Nós criamos uma barreira psicológica que acaba nos impedindo”. Parar de trabalhar a noite, para ele, é estar sendo limitado por causa da violência. O maior reflexo disso é a dificuldade familiar.

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