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Macapá, Amapá
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O que é ser um bom repórter?

Carlos Lima

A vida de um repórter está longe de ser das melhores. Pode ser uma das mais cobiçadas e invejadas da comunicação social, mas há também seus contras e retribuições nada agradáveis para o tamanho do nosso esforço. Mesmo com tantas frustrações, amamos completamente essa vida ‘bandida e sofrida’, caso contrário, nós não suportaríamos certas situações de bastidores.
Imagine chegar à redação, bem cedo. É o seu primeiro dia de trabalho naquele jornal. Você está muito empolgado. O nervosismo é maior quando é sua primeira experiência com aquele tipo veículo. No momento em que chega, é logo recebido por seus novos colegas com muita simpatia, sorrisos estendidos e palavras de motivação. Tudo ainda está tranquilo. Você não se importa em trabalhar uma semana, ou um mês de graça, afinal quer ser efetivado. E seu chefe, nos primeiros dias, é um amor de pessoa.
Os demais repórteres te dão maior força. Ensinam-te, muitas vezes, o que já está careca de saber. Eles te dão várias dicas, sugestões de pauta, e outros agrados mais. Você é o único que não deve se enganar com isso. Na maioria das vezes, alguns deles é que acabam se enganando, pois preferem não acreditar que você está lá para ocupar a vaga de um deles. No primeiro dia, seu chefe geralmente se abaixa ou se senta ao seu lado e reza todas suas obrigações e o que deve fazer no dia de ‘hoje’. Você nem sempre entende o que ele quer, mas acaba tendo que se virar. Acredite! Muitos chefes não estão preocupados se você vai se sair bem, ou não. Atenção, o cara chamado de chefe de redação, ou pauteiro, é quem lhe dará ordens. Em outros casos, o Editor Chefe, acaba fazendo o papel de carrasco direto do repórter. Esses personagens estarão ligando a cada meia hora, quando você estiver na rua cobrindo as pautas.
Os jornais impressos se diferem, sobretudo, pela direção de jornalismo. A forma com que o veículo é conduzido pela direção vai refletir diretamente na relação repórter-patrão, e obviamente no seu desempenho também. Todo repórter um dia vai duvidar da própria capacidade. Uma dica importante na hora de escrever é nunca pensar o texto antes de escrevê-lo. Importante mesmo é elaborar sua pauta. Pensar antes no ‘roteiro’ para sua entrevista. Não precisa escrever as perguntas, mas anote palavras chaves, que possam conduzir seu pensamento àquela ideia. Sempre que anotamos as perguntas, a entrevista acaba se tornando apenas ‘pergunta- resposta’, e o papo geralmente termina antes que você se dê por satisfeito. Legal é que a entrevista se torne um bate-papo entre amigos íntimos. Por mais que o entrevistado seja sério e fechado, não se sinta reprimido com isso, você pode mudar o humor da conversa. Pode falar sobre o que quiser, contanto que aquela pessoa possa responder, mas os pontos principais, que motivaram a sua entrevista, não podem ser esquecidos. Fundamental, é gravar o que lhe falam, isso pode livrá-lo da ma fé dos outros um dia. De volta a redação, cuidado ao se sentar para escrever, preste atenção em sua volta, quando estiver a digitar. Se alguém chegar, seja cavalheiro e pergunte a essa pessoa se ela gostaria de usar aquele computador. Isso ajuda a manter a humildade e as boas relações no ambiente de trabalho. Mas não se preocupe! Quem quer que seja, nunca vai pedir para você sair de lá. A resposta será a seguinte: “Não. Não. Pode terminar!”.
O trabalho do repórter termina onde começa o do editor de páginas. Esse personagem vai colocar seu texto no lugar onde seu editor escolheu. Ou seja, se seu editor chefe, viu que o título de sua matéria ou reportagem é de impacto, polêmico, ou no mínimo de interesse médio, ele(a) vai designar um local estratégico na página para seu texto. Quem sabe uma manchete. Pensando nisso, o profissional precisa mostrar para ele que tem talento. Se acomodar não é muito bom, pois se suas matérias vão perdendo a importância para ele, você também perde. Isso ocorre com muita frequência. Depois de certo tempo na empresa, alguns acabam se contentando com os textos que chegam através da internet. É o chamado (ctrl+c/ctrl+v). Cuidado com isso! Chame seu chefe para uma conversa sobre suas matérias, peça a opinião dele sobre os assuntos que pretende abordar, nem sempre a ideia é a mesma que você tem, mas é uma ideia. Essa atitude vai mostrar que você tem respeito por ele, e certamente terá um tratamento diferenciado depois disso. Voltando ao Editor de Páginas. Existe uma guerra eterna entre editor e repórter. Assim como repórter e revisor. Às vezes, o erro de um editor acaba sendo injustamente o erro do repórter. Assim também ocorre com o revisor. A falta de atenção da pessoa que está revisando o texto ou da pessoa que está fechando a página é vista pelos leitores como incompetência dos repórteres. Isso acontece porque maioria das pessoas não sabe onde termina e nem onde começa o trabalho do repórter. Se a matéria sai duas vezes na mesma edição, ou se aparece com a foto ou título trocados não quer dizer que o autor é incompetente. Ele não tirou a foto da pessoa errada e nem se confundiu na hora de fazer o título.
O título é a parte principal de uma reportagem, então como pode alguém não estar com toda a atenção voltada no momento de escrevê-lo? Pior de tudo é quando não escreveu determinada matéria, mas seu nome está lá estampado; ou quando você teve tanto trabalho para apurar certas informações e, no final das contas, o crédito é dado a outra pessoa por uma simples desatenção do editor de páginas. Ser bom repórter é também saber lidar com tudo isso. Ser flexível diante de todos os contras dessa função é uma característica sábia. E embora muitas vezes cruel essa vida de repórter, estamos cada dia mais apaixonados. Talvez pela satisfação de ser reconhecido, pelo status e pelo ‘poder’ que seu nome passa a ter quando é visto grafado. O que difere um repórter de outro, não é apenas o talento para escrever ou discursar, mas a forma com que pensa sua pauta. Papel e caneta ao lado da cama não é loucura. As melhores ideias surgem durante o sono. Seja esperto, não seja comum! Ser ousado não é pecado quando se quer reconhecimento.

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