Administrado por

Macapá, Amapá
DIRETO DA REDAÇÃO, junho de 2008 - ESTA PÁGINA NÃO POSSUI QUALQUER VÍNCULO COM O PROGRAMA ROTA 16 - msn: carloslima-dr@hotmail.com (esteja em contato com o jornalismo responsável)

Família Konishi: Assassino ardiloso pede perdão em tom “frio”

O vídeo com o depoimento foi umas das provas que suscitou maior interesse durante a coletiva. Em um trecho dele, Wellington pediu perdão por sua atitude psicótica. Ele disse que tinha respeito por Carol e adorava Vitória como uma irmã

A Promotoria de Investigações Cíveis e Criminais (Picc), a Polícia Civil e os Peritos da Polícia Técnico-científica (Politec) reuniram a imprensa, na manhã de ontem (21), para apresentar o resultado da primeira fase do inquérito policial que apura a morte da Família Konishi. Em um dos trechos do depoimento, Wellington Raad, réu confesso, diz que está arrependido e chega a pedir perdão a deus e à namorada de Marcelo, Daniele Nascimento, 20 anos, pelos assassinatos. De acordo com a polícia, ele não revelou os motivos da chacina.

Os delegados, Celson Pacheco e Alan Moutinho, acompanhados do presidente do inquérito José Roberto Prata e do promotor de justiça Flávio Cavalcante, da Picc, exibiram slides detalhados com os principais pontos da investigação. Um vídeo também exibido com trechos do depoimento de Wellington Luis Raad Costa, de 19 anos, mostrou o momento em que o réu se declara culpado pela morte de Caroline Camargo Rocha Passos, 32 anos, Vitória Konishi, 11, e Marcelo Konishi, 19, na noite do dia 10 deste mês.

O vídeo com o depoimento foi umas das provas que suscitou maior interesse durante a coletiva. Segundo o promotor, Flávio Cavalcante, todo o interrogatório do então suspeito, Wellington Raad, foi gravado com o consentimento do próprio acusado e na presença de seus advogados. A exibição ocorreu em função de recente reportagem veiculada em um jornal local que tentou macular o trabalho da polícia e do Ministério Público. O jornal reproduziu trechos do depoimento oficial do pai adotivo do assassino, Aldo do Espírito Santo, e especulou que Wellington poderia não ter confessado os crimes.

Polícia estudou a sequência das mortes

No dia 11 de maio, o Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciodes) registrou a primeira ligação por volta de 10h17 oriunda do bairro Jardim Equatorial. A ocorrência foi repassada às viaturas de área da Polícia Militar, Polícia Civil e Politec que constaram os três corpos na casa 226 da rua João de Castro Sussuarana. Caroline Camargo, Marcelo e Vitória, estavam mortos em um dos quartos da casa a golpes de faca.

A elucidação da dinâmica do crime é fruto de intenso trabalho dos grupos especializados da Polícia Civil (DCCP, DECIPE, NOI, GTA), Picc e a Politec. A promotoria informou que o adolescente foi o primeiro a ser morto. Através da mancha de sangue em um dos travesseiros de Marcelo, a perícia deduziu que ele tenha sido atacado quando estava deitado e sozinho com o algoz.

Atraída pelo assassino, Caroline Camargo foi a segunda vítima a ser abatida. Delegado explicou que a advogada foi atacada pelas costas com golpe preciso, que lhe tirou todos os movimentos. O golpe atingiu a coluna cervical lesionando a medula óssea, que provocou a perda das reações. A lesão também justifica a posição em que o corpo foi encontrado. José Roberto Prata informou que Vitória foi morta no quarto da mãe. A menina não ouviu ruídos porque estaria usando fone de ouvido como de costume. A empregada da família confirmou que as duas facas encontradas na cena do crime são da própria residência. Uma delas foi usada contra Marcelo e Carol, e a outra contra a vida de Vitória Konishi. A menina empreendeu maior resistência e chegou a lutar pela vida, disse o delegado.

Criminoso tentou criar álibi

Além do carro da vítima, desapareceu da casa um celular e o Playstation que Marcelo havia ganhado do pai. O celular de Marcelo foi deixado no local do crime propositalmente, segundo Prata, para criar um álibi perfeito. Depois do crime, até momentos antes dos corpos serem encontrados, Wellington efetuou várias ligações para este celular na intenção de criar o álibi caso viesse a ser visto como suspeito. No dia 17 de maio, a polícia e o Ministério público realizam buscas franqueadas por Aldo Do Espírito Santos, no quarto do suspeito. Foram localizados na gaveta da cômoda, um microchip de celular e um adaptador. Ao restaurar a memória, que havia sido deletada pelo assassino, a polícia encontrou um vídeo de Caroline em momento de alegria com o marido, professor Pedro Rocha. O vídeo foi gravado na praça beira-rio, na cidade de Macapá, no início deste ano. Foram restaurados também outros arquivos pessoais e músicas que pertenciam a Vitória.

Wellington passou de melhor amigo da família para principal suspeito do crime em questão de horas. Pessoas próximas da família começaram a ser ouvidas no inquérito ainda na terça (11). Após o depoimento de Daniele Nascimento, namorada de Marcelo, a promotoria conseguiu chegou a Wellington. Ele passou a ser ouvido na quarta-feira (12), dois dias após o crime, quando foram constatadas as lesões na palma da mão esquerda, braço e barriga. Diante dos ferimentos, a polícia achou conveniente submetê-lo a uma série de exames detalhados de lesão corporal e papiloscopia. No dia 13, Raad confirmou ao promotor Flávio que esteve na casa na noite do dia 10.

Cai por terra o latrocínio

Nos desdobramentos em buscas por provas, o celular de Vitória, o Playstation e outros objetos foram encontrados em uma caixa de gordura na avenida 1º de maio, próximo à residência onde moram os familiares de Wellington. Cai por terra a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte). Na sexta-feira (14), quatro dias após o crime, a perícia emite boletim informativo confirmando que o resultado dos exames preliminares comprovou as impressões digitais do acusado idênticas aos fragmentos deixados na parede da cozinha da casa de Carol. Wellington foi considerado dono da mancha de sangue na parede da cozinha próxima ao estojo de facas.

A confissão e Wellington

A polícia e a promotoria, de posse da prova técnica, representaram pela custódia preventiva do principal suspeito pelo triplo homicídio. Na noite do dia 14, Wellington foi submetido a intenso interrogatório na presença de advogados, promotores e delegados, que em busca da confissão atravessaram a madrugada. Por volta de 1h30 já do dia 15, o réu começa a confessar que matou Marcelo, Carol e Vitória, sozinho. Na mesma ocasião, ele fala de seu respeito pela advogada Caroline Camargo e sua adoração pela menina Vitória, que lhe tratava como irmão. Sobre Marcelo, Wellington falou que se tratava de “um amigo excepcional, que esteve sempre disponível”, declarou o réu.

Em dado momento, Luis Raad afirmou que se sentia arrependido pelos crimes quando a promotoria e delegados tentavam aguçar as emoções do assassino, que se manteve o tempo inteiro frio. Perguntado repetidamente se havia matado Carol, Marcelo e Vitória, o estudante diz em tom “seco”: “fui eu”, pelo menos três vezes no trecho exibido pela Picc. O réu confesso pede perdão a Daniele Nascimento, 20 anos, namorada grávida de Marcelo Konishi. “Que Deus me perdoe”, completou.

Wellington demonstra comportamento sádico

Foi durante este depoimento que o jovem pediu para ser levado até o local do crime na tentativa de lembrar detalhes sobre a dinâmica do crime. No decorrer do inquérito, a polícia concluiu que o objetivo dele era unicamente saciar o prazer pelo cenário macabro. Na noite do dia 10, Wellington não havia contado a ninguém sobre a chacina. Segundo sua versão, ele teria ido à residência das vítimas, mas ficou por alguns minutos e depois retornou a sua casa, onde tomou banho e em seguida saiu para jantar com a namorada de iniciais J. B. e uma terceira pessoa. Os três foram a uma praça do bairro Buritizal na rua Santos Dummont. Segundo ele, o crime ocorreu após as 23 horas.

A namorada de Wellington e a amiga que o acompanhavam notaram cheiro forte de sangue que exalava de seu corpo. Indagado,“Que pitiú forte de sangue é esse?”, Wellington mentiu dizendo que se feriu em confronto com um assaltante. A mesma versão foi dada à polícia nos primeiros depoimentos. Na praça em torno da caixa dágua do bairro Buritizal, Wellington pergunta aos companheiros se poderiam comer seus sanduíches em suas casas, pois não se sentia bem. Ao adentrar no carro do assassino, a namorada percebe no banco de trás a mochila que seria de Vitória. Wellington a repreende dizendo: “Larga isso aí que não é meu”.

A namorada e a outra testemunha que os acompanhava nesta noite disseram que encontram Raad por volta de 23 horas, e ainda confirmaram pela cor e pelo modelo que o celular achado em via pública pela polícia era o mesmo que Wellington manuseava na noite do crime. A partir destes depoimentos ocorridos no dia 17, a promotoria começa e a entender que a chacina ocorreu entre 20h e 22h30 da noite de segunda-feira (10), e não na terça como se achava.

Detalhes como o cheiro de sangue no corpo de Raad, a mochila e o celular de Vitória dentro do carro comprovam que o maníaco matou a família e em seguida saiu para comer sanduíche. Segundo os delegados, o criminoso chegou a oferecer o celular de “Vivi” para a namorada como presente, mas ela se recusou a aceitar. A polícia também investigou a relação entre dois filmes locados pelo assassino com a chacina da família Camargo. Um deles é o sangrento, “Jogos Mortais VI”, retirado em nome do réu dois dias antes do crime.

Wellington Raad Costa, 19 anos, foi indiciado como incurso no artigo 121 (homicídio qualificado), perpetrado com emprego de tortura e meio cruel, traição e recursos que tornaram impossível a defesas das vítimas, combinado com os artigos 61, inciso II, letra “h” (contra criança). O estado tem por obrigação assegurar e preservar a integridade física do réu antes e após o julgamento. O motivo do triplo assassinato continua um mistério. Para a sociedade, restaram apenas especulações.

Visitante de nº