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Macapá, Amapá
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TAXI


SOB O MEDO DO CRIME

Além de encarar um dos trânsitos mais violentos do Brasil, os “profissionais do volante” convivem com mau humor de passageiros, estresse, despesas, clandestinidade e agora os assaltos.

Se a fé move montanhas, ela também pode evitar os assaltos. Pelo menos é assim que muitos taxistas têm encarado a vida noturna em Macapá. A cada dia, cresce o número de motoristas que utilizam terços com crucifixos, imagens ou adesivos de santos no interior dos carros. Pequenos furtos, sequestro relâmpago, roubos com lesões corporais, furto do veículo e latrocínio são os crimes que vêm aterrorizando os taxistas na cidade. Somente esta semana, três casos de assalto foram registrados, um deles com esfaqueamento. Na última terça-feira (20), dois homens e uma mulher renderam um taxista durante uma corrida no centro da cidade. Sob ameaça, ele entregou dinheiro, celular, e o taxi foi deixado em área escura no bairro Marabaixo III.

Na maioria dos assaltos, a vítima é levada para um local distante e de pouca movimentação para serem roubados e abandonados à deriva. Nos furtos e sequestros, o taxi é usado para a prática de outros assaltos, quanto o taxista é mantido no porta-malas. O ano de 2009 foi um dos mais violentos para a classe dos taxistas de Macapá. De acordo com o Sindicato dos Taxistas do Amapá (Sintaxi), a média chegou a ser de dois roubos por noite só na capital. Graças a uma parceria com a Polícia Militar, essa média diminuiu até o início de 2010. Todavia, os bandidos voltaram a aterrorizar pais de família e espalhar medo na praça.

Em novembro do ano passado, o taxista Iraelson dos Santos Costa foi morto com um tiro na cabeça no bairro Nova Esperança. O crime ocorreu durante a madrugada no final de semana. Através de uma adolescente que teria sido co-autora no latrocínio, a polícia conseguiu chegar ao criminoso conhecido como “Douglas do Iapen”. Em dezembro, outro profissional foi vítima de meliantes. Os três assaltantes eram detentos que estavam com o benefício do indulto natalino: Ozeas Morais de Deus, vulgo “Tobi”, Gilson dos Santos Martins e Eliezer dos Reis Farias, vulgo “Bola”, presos pela Polícia Militar após o crime, ocorrido às 2h da madrugada.

Em fevereiro, deu entrada no Hospital de Emergências dirigindo o próprio carro por volta de 2h20 da madrugada, o taxista Ari Gonçalves Mendes, de 43 anos. Mesmo sangrando, ele conseguiu chegar à recepção e pedir ajuda. Ari informou à polícia que um elemento pegou seu taxi no centro da cidade e pediu que o levasse até o Perpétuo Socorro, onde anunciou o assalto. Ari recebeu uma facada no pescoço ao esboçar um movimento brusco. O assaltante fugiu sem ser identificado.

No mês passado, outros dois assaltantes foram presos acusados de render um taxista no centro da cidade. Denilson Mendes Souza, de 38 anos, e Cícero Pereira de Sousa, de 22 anos, foram flagrados com a arma usada no crime. O taxista Ivanildo Oliveira Gomes, de 51 anos, foi rendido e humilhado durante uma corrida até o bairro do Trem. Em março deste ano, três homens armados com facas apanharam um táxi no centro da cidade na madrugada e renderam o taxista em assalto. Max, como é conhecido o motorista, foi levado para uma área conhecida como “Piçarreira” às proximidades do Aeroporto Internacional de Macapá, onde foi despescado. Os assaltantes levaram a renda da noite, celular, jóias, som do veículo e abandonaram a vítima no local. Na mesma semana, o taxista conhecido como Barcarena também foi abordado por assaltantes à noite. Dois adolescentes desferiram três facadas no taxista, que ficou entre a vida e a morte. A polícia conseguiu chegar aos infratores e os encaminhar ao centro de custódia para menores (Cesein).


Transporte Clandestino

Além de prejudicar aqueles que pagam devidamente seus impostos, o transporte clandestino representa um grande risco à segurança do usuário. Uma simples corrida pode se transformar em um drama para toda a vida. No ano passado, a jovem E. C., de 19 anos, que reside no bairro Cidade Nova, foi roubada por um motorista clandestino. Ela aguardava o ônibus no centro da cidade, quando se aproximou dela um carro particular de cor preta, de placas não identificadas. Na oportunidade, o motorista ofereceu transporte pelo preço de R$ 2,00 por passageiro. Segundo a jovem, dentro do carro havia mais duas mulheres além do motorista e por isso teria aceitado entrar. Depois que o motorista deixou um das mulheres, a jovem foi rendida em assalto pelo motorista e sua comparsa. Os bandidos tomaram bolsa, celular, dinheiro, documentos e jóias e abandonaram a vítima no bairro do Muca. Ela disse a polícia, que podia identificar o casal de assaltante, porém nenhum deles foi preso.

O medo

As situações criminosas que envolvem os taxistas englobam desde furtos simples, sequestro relâmpago, violentos roubos e latrocínio. Muitos carros são furtados e usados principalmente em assaltos, em seguida são abandonados. Em um crime recente que ocorreu na BR-156 às proximidades de Oiapoque, pelo menos, cinco assaltantes renderam os passageiros e motoristas de um ônibus que fazia linha para Macapá. No crime, que aconteceu no mês passado, eles utilizaram um taxi Branco com registro de furto. Doze pessoas ficaram feridas neste assalto. Como de praxe, o veículo foi abandonado em um ramal.

Ser taxista é trabalham lado a lado com o receio e a incerteza. O receio é de ter que confrontar com bandidos de alta periculosidade, e a incerteza da volta para casa com segurança. A maioria acredita que a única alternativa para escapar da violência é não sair para trabalhar à noite. O presidente do sindicato, Risonilson Barros, aposta em parceria com o poder público e com a polícia. Os assaltos ocorrem todos os dias. Porém muitos casos não são informados aos órgãos de segurança. De acordo com o sindicato, (90%) dos assaltos não são registrados. “As ocorrências só são registradas quando as vítimas sofrem alguma agressão, quando são assassinadas ou quando o bandido é preso. A partir do momento em que o taxista registra o roubo passa gerar uma estatística, que pode ajudar no trabalho da polícia”, alertou o presidente.

Uma estimativa divulgada este ano pelo Sinditaxi revelou que 70% dos taxistas deixaram de trabalhar nas noites de Macapá em função da violência. De acordo com o Sintaxi, 70% dos permissionários (donos da placa) não saem mais à noite e preferem “dar” o carro a um comissionário, àqueles que trabalham por comissão, que além das despesas domésticas, o custo a pagar pelo uso da placa e outras responsabilidades mensais, tem lhes forçado a correr os riscos da profissão.

Agressividade

A maior parte dos bandidos age com agressividade e usa armas de fogo. Geralmente, eles estão bem vestidos e acompanhados de mulher para não levantar suspeitas. Levam o taxista para locais distantes em bairros periféricos como Novo Horizonte, Congós, Infraero II, Muca e Marabaixo. Em pontos isolados, escuros sem movimentação de pessoas, eles anunciam o assalto, se reagir morre, ou no mínimo sai esfaqueado.

Colocar os taxistas no porta-malas do carro e praticar assaltos com o veículo é uma modalidade muito usada pelos bandidos. Uma das histórias mais contadas é de um assalto ocorrido há alguns anos em Macapá, onde o taxista foi colocado na mala do carro e quase morreu asfixiado. O presidente do sindicato relatou detalhes que salvaram a vida deste pai de família. “Só ele dirigia o taxi porque tinha ciúmes do carro. Até na oficina, ele não deixava o mecânico dirigir para testar. Ele mesmo testava. Nem parentes, nem a esposa dele pegava no carro. Graças a isso, ele foi salvo quando estava quase morto dentro do porta-malas. Ele foi assaltado, jogado no porta-malas, e o carro foi usado em outros crimes. Alguns colegas viram que não era ele quem estava dirigindo e acionaram a polícia, que prendeu os dois assaltantes”, conta Risonilson. Este taxista nunca mais voltou a trabalhar.

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